Se essa rua fosse nossa
Na escala das cidades a memória se expressa pontualmente através, principalmente, de homenagens. O nome de uma rua, uma estátua, uma placa. Porém, quem são esses que nomeiam os logradouros públicos pelos quais todos nós transitamos cotidianamente? Sabemos que a história é tortuosa e muitas vezes segue caminhos que privilegiam determinado grupo em detrimento de outros. É necessário uma reflexão sobre as figuras que homenageamos, afinal, a cidade não deve enaltecer a memória daqueles que feriram seus cidadãos. Embora, felizmente, o Rio de Janeiro seja uma das cidades que menos possui homenagens à personagens da ditadura militar, pouco se faz em memória das vítimas de feminicídio, racismo e homofobia. Levando em conta o contexto de intolerância que vivemos atualmente, acreditamos ser de extrema importância dar voz às minorias, contribuindo para uma cidade que reconheça respeitosamente sua presença. Aproveitando que a diagramação das placas do Rio inclui uma breve explicação da origem do nome do local, propomos intervenções nas placas de ruas e praças da cidade. Pretende-se substituir o nome do local pelo nome da vítima e a descrição pela explicação e data do crime ocorrido. Um breve levantamento de cores, fontes e tamanhos das placas de rua, gerou um arquivo modelo editável. Assim, para realizar o projeto é preciso somente imprimir em papel adesivo o nome/informação que se deseja trocar e colá-lo, possibilitando inúmeras intervenções pontuais e elevando sua abrangência de visualização. Nesse sentido, a relação entre a memória e o logradouro é parte essencial da intervenção. Pela discrição, é provável que sua duração seja extensa e acreditamos que possa ativar um processo diário e contínuo de conscientização dos indivíduos da cidade quanto ao respeito à heterogeneidade que a compõe.
Marina Amaral
Nascida numa família de arquitetos, segui o mesmo caminho e aos 23 anos estou finalizando minha graduação na FAU UFRJ. O direito à cidade e as barreiras invisíveis que se estabelecem à cada “renovação urbana” me inquietam e me incentivam à explorar os limites da arquitetura e da arte pública.
Anna Carolina La Marca.
Apesar de ser estudante de Arquitetura e Urbanismo sempre me interessei pelas diversas disciplinas que englobam o mundo das artes, de performances a instalações, de ocupações a pixos no muro. Acredito na arte como agente de conhecimento e transformação, capaz de modificar (SIM) o mundo.