O Desafio

Por que há tanta escassez de respeito na cidade, se ela é imaginada para ser um lugar onde todos possam compartilhar respeito em meio à diferença?

Convocamos os residentes do Rio de Janeiro, artistas, ativistas, performers e outros a identificar um espaço ou relação social na cidade, que segundo eles, produza uma condição de desrespeito.

Em seguida, eles deverão projetar intervenções arquitetônicas, urbanas, performáticas e/ou organizacionais, que promovam o RESPEITO entre as pessoas em meio à diferença e potencialize o respeito abundante ao invés de um recurso escasso.

Inscrições

A fim de ser considerada, cada proposta deve ser enviada online até as 23h59 do dia 7 de setembro de 2016, contendo os seguintes elementos:

  • Material visual do projeto proposto, incluindo até 5 imagens (fotografias de um local, intervenção ou performance, desenhos, design gráfico, etc.) OU 1 só vídeo de até 3 minutos de duração
  • 1 imagem título para representar seu projeto. Se sua equipe optar por enviar 5 fotos ao invés do vídeo, a imagem-título dever ser uma das 5 listadas no item anterior. Não envie uma 6a. imagem.
  • Proposta escrita de 300 palavras (considerando os itens descritos na seção ESTRATÉGIA DE PROJETO)
  • Biografia e declaração de envolvimento de até 50 palavras para cada membro da equipe, que devem ser no máximo 6

Introdução

"A falta de respeito, embora pareça menos agressiva do que um insulto manifestado, pode assumir formas igualmente ofensivas. Insultos não são desferidos à outra pessoa, porém, tampouco se confere a ela qualquer reconhecimento. A pessoa em questão não é vista – como um ser humano pleno, cuja presença tem valor.

Quando uma sociedade trata a sua massa populacional desta forma, concedendo reconhecimento apenas a um seleto grupo de privilegiados, gera escassez de respeito, como se esta preciosa substância não estivesse disponível em quantidades suficientes para todos. Assim como na maioria dos casos de fome, essa escassez é produzida pelo homem; mas ao contrário dos alimentos, o respeito não custa nada. Então o que justifica tal escassez?”

Richard Sennett, Respeito: A Formação do Caráter em um Mundo Desigual

A cidade é imaginada como um lugar onde todos compartilham respeito em meio à diferença. Ela é frequentemente descrita com uma criação físico-cultural coletiva, na qual um padrão mínimo de relações sociais permite que pessoas muito diferentes umas das outras possam conviver relativamente em paz.

No entanto, as cidades são ainda espaços onde há acumulações extremas de riqueza e condições de extrema pobreza. A forma espacial urbana resultante caracteriza-se pela existência de vastos fossos que separam espaços excessivamente providos de infraestruturas e comodidades, de outros deliberadamente ignorados pelos órgãos públicos e privados.

Cidades no mundo inteiro perderam a fé na capacidade urbana de produzir respeito. Isto manifesta-se de forma patente no aumento do medo urbano bem como da pobreza urbana. Há uma proliferação de condomínios fechados e espaços privados com arrojados sistemas de segurança, de propriedade dos ricos e para os ricos, que vivem eternamente com medo do "outro" urbano. Por outro lado, observa-se uma disponibilização insuficiente de terreno e moradia para os novos imigrantes e pobres urbanos, bem como a existência, dentro da cidade, de extensões territoriais que escapam ao controle do estado.

Se a cidade deve ser pensada como um sistema, um espaço, uma realidade social capaz de produzir as condições necessárias para que haja respeito em meio à diferença, onde podemos ver tal cidade nos dias de hoje? Na atual época da privatização em massa do espaço e da vida públicos, onde pode um público urbano garantir sua sustentabilidade material e cultural? Nos dias de hoje, onde estão os espaços públicos nos quais as pessoas podem coabitar e produzir uma cidade de respeito?

O respeito como ação, condição, relação social difere do conceito histórico de "respeitabilidade", segundo o qual corpos de determinada classe social, raça, gênero e aptidão física sempre gozaram do privilégio de serem considerados "respeitáveis", por atenderem a certos códigos de aparência. Na nossa acepção, respeito também não significa reverência acrítica nem acato a instituições de poder ou de privilégio, que por sinal, podem até ser agentes produtores de desrespeito estrutural. Este Desafio propõe que se pense além das noções familiares de respeito pela autoridade, pelos mais velhos ou pelo poder – e que, em vez disso, se considerem essas mesmas noções como malhas de uma rede coletiva de desrespeito. Com sua longa história de convívio não só com a diferença, mas também dentro e por meio dela, o Rio de Janeiro, que está vivendo um momento de intensa transformação urbana e política, é um canteiro urgente de considerações sobre como Projetar para o Respeito.

Este concurso quer que terrenos, arquiteturas, infraestruturas sociais ou físicas em todo a cidade do Rio de Janeiro sejam reimaginados como espaços para lutar, defender ou produzir novas condições de respeito dentro do contexto da superdiversidade da metrópole do século 21. Contudo, o projeto em si não será o produto final. Ele pode ser o meio através do qual se construirão relações comunitárias ou urbanas, espaços e organizações.

Estratégia

Identifique um espaço, estrutura física, bairro, recurso ou relação social no Rio de Janeiro que produz, atualmente, uma condição de desrespeito na cidade. Por exemplo, edifícios, serviços ou espaços abertos que não produzem valor para suas comunidades; o fornecimento insuficiente de infraestruturas como moradia, transporte ou cultura; momentos de violência e insegurança; favoritismo ou descriminação com base em raça, gênero, aptidão física ou endereço; ou quaisquer outras condições identificadas por sua equipe. Descreva ou mostre a situação e contexto atuais.

Projete uma intervenção arquitetônica, urbana, performática ou organizacional que viabilize condições de respeito entre pessoas em meio à diferença, que produza respeito não como um recurso escasso, mas abundante. A intervenção pode ser temporária e pode até não se traduzir numa manifestação física no espaço determinado. Por exemplo, pode ser uma plataforma online que promova condições de respeito. No entanto, o projeto deve mostrar ou descrever tanto a intervenção em si como a condição de respeito que será produzida coletivamente graças a ela.

Forneça uma proposta escrita (300 palavras) apresentando os três pontos abaixo:

  1. Defina a condição de desrespeito na cidade que seu projeto pretende abordar.
    Qual é a condição de desrespeito na cidade que o seu projeto de intervenção se propõe a abordar? Por exemplo, trata-se de algum tipo de desrespeito relacionado a desigualdades sociais, econômicas ou raciais na cidade? Ou talvez sua equipa tenha percebido uma condição de desrespeito urbano na distribuição desigual de recursos como transporte, moradia, parques, assistência médica ou social, dispositivos culturais, entre regiões centrais e periféricas da cidade. Ou ainda, será que o desrespeito observado se manifesta na forma como certas pessoas são ou não são vistas como importantes participantes cívicos da vida na cidade, em seus aspectos social, econômico, político e cultural?
  2. Explique como o projeto ou a intervenção seria executado.
    Seu projeto ou intervenção requer financiamento, quantidades consideráveis de materiais ou trabalho não remunerado? Como o seu projeto pode ser autossubsistente e duradouro, para que seus efeitos sejam ampliados? Trata-se de um evento pontual ou da transformação perene de um sistema? Esse projeto pode ser reproduzido em vários espaços e lugares ou está associado a uma localidade específica?
  3. Explicite como o projeto ou a intervenção vai gerar respeito.
    Que resultado você espera obter com sua intervenção? Explique como seu projeto aborda a condição de desrespeito identificada e por que isso é importante para o futuro da cidade.

Times

Encorajamos os candidatos a formarem grupos interdisciplinares, que incluam performers, artistas, ativistas, arquitetos, urbanistas, designers, planejadores e de diferentes perspectivas que tenham impacto relevante no projeto.

Júri E Sistema De Votos

Dentro do espírito de projeto e política, as propostas do Desafio de Ideias de 2016 serão julgadas tanto por um júri de especialistas como por meio de um sistema de júri de pares, aonde os demais participantes poderão votar em seus projetos favoritos.

Inicialmente, um júri de especialistas, de formato mais tradicional, se reunirá. Será pedido a cada jurado que apadrinhe uma proposta ligada a sua área de interesse público e atuação profissional.

No entanto, pela primeira vez em um desafio internacional organizado pelo Theatrum Mundi, a seleção das dez propostas a serem exibidas publicamente, ao lado daquelas apadrinhadas pelos jurados, será feita por um júri de pares. No início de setembro, todos os candidatos serão convidados a participar de uma jornada na qual poderão analisar todas as propostas e apresentar sua própria lista dos dez melhores. Nenhuma equipe poderá votar em sua própria proposta. Quem não puder estar presente fisicamente poderá enviar sua seleção eletronicamente. Será feito de tudo para que um número máximo de equipes inscritas possa participar do júri de pares.

Exposição

No final de setembro de 2016, as propostas vencedoras e aquelas apadrinhadas pelos jurados serão exibidas no Rio de Janeiro.

Todos os projetos inscritos entrarão para o arquivo global de propostas sobre projeto e política, e poderão ser exibidas mais tarde.

Histórico

Há dois anos, o Theatrum Mundi (TM) vem organizando, anualmente, um Desafio de Ideias que tem como objetivo explorar as possibilidades e os limites do design para abordar questões críticas associadas à política de cultura urbana.

"Projetar para a Liberdade de Expressão" (2014) em Nova York. Esta desafio levantou as seguintes perguntas: "Pode-se projetar em favor da liberdade de expressão? Quais são os limites do design formal em relação à Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos da América?

"Projetar Terrenos Comunais Urbanos" (2015) em Londres. Este desafio propunha um questionamento dos conceitos de propriedade, gestão pública e prática coletiva em relação à questão histórica dos terrenos comunais, e ao verbo "comunalizar".

Em junho de 2016, o Theatrum Mundi lança o terceiro Desafio de Ideias na cidade do Rio de Janeiro. Esta terceira edição é também a primeira realizada no âmbito de uma nova parceria de quatro anos com a Cátedra Cidade Global do Collège d’études mondiales na Fondation Maison des sciences de l’homme em Paris, que estenderá o concurso à América Latina, ao Oriente Médio e à Ásia.

Início Da Parceria

Em março de 2016, o Theatrum Mundi organizou um seminário no Rio de Janeiro a fim de explorar possíveis questões, métodos e resultados para o Desafio de Ideias. Entre os participantes, estavam Gringo Cardia, Pedro Rivera, Washington Fajardo, Marcus Faustini, Eliana Souza, Jailson de Souza e Silva, Leno Veras, Marcelo Dughettu, Batman Zavareze, Ângelo Venosa, Mauro Ventura, Ana Cláudia Souza, Paul Heritage e Adam Kaasa. A partir das conversas realizadas durante esta oficina, decidiu-se que o Desafio de Ideias 2016 abordaria a questão do respeito na cidade.

Agenda De Atividades

Março de 2016 – Oficina Inicial de Especialistas
Junho de 2016 – Lançamento do Desafio de Ideias
Setembro de 2016 – Júri e Exposição

Parceiros Do Programa

‘Global Cities’ Chair at the College d’études mondiales / Fondation Maison des Sciences de l’Homme, Paris

Parceiros No Rio De Janeiro 2016

Museu de Arte do Rio
Spectaculu
People’s Palace Projects