Confluência de Vestígios
O espaço da comunidade Vila Autódromo é resultado de uma ação coletiva constituída por moradores, que resistiram durante anos a um processo de remoção. A Vila vivenciou reduções territorial e populacional, geradas pela remoção autoritária perpetrada pela prefeitura e pelo capital privado, que desrespeitam o direito à moradia. Atualmente, composta por vinte casas, sendo 2,85% do original, está cercada pelo Parque Olímpico e novos empreendimentos imobiliários. A comunidade é testemunha dos vestígios causados pelos impactos de um megaevento global, nesse cenário nasceu o Museu das Remoções.
O projeto é uma continuidade de atividades realizadas na Vila, consiste num processo de convivência e criação, buscando tecer relações entre moradores e artistas plásticos. Num primeiro momento, haverá encontros de relatos das vivencias na localidade antes, durante e depois do processo de remoção, ressaltando as repercussões de cunho territorial, social, político e emocional, o intuito é estabelecer através da interação dialógica conexões de memória e potencializar novas perspectivas. A partir dessas trocas, os artistas realizarão intervenções no espaço da comunidade, o Museu. A demanda reside num aporte para aquisição dos materiais para as intervenções. As quais construídas se integrarão ao acervo do Museu, e poderão ser exibidas em outros espaços da cidade.
O processo de encontros tem como finalidade alavancar o poder libertador da memória e elaborar novos planos de consciência e criatividade, concebendo laços que visam o desenvolvimento e a manutenção dos direitos, que precisam ser democratizados. Uma comunidade que foi, ao longo dos anos, subalternizada e expropriada do direito de construir e narrar suas histórias, memórias e patrimônios necessita de vivencias relacionais para o apoderamento social, como símbolo de segunda chance. E através da memória, ao se olhar outra vez, superar seus problemas fragmentados da atualidade. A memória como fio condutor para as relações de respeito validando a dinâmica da vida.
Thainã de Medeiros – Museólogo. Idealizador do Museu das Remoções, membro do Coletivo Papo Reto, atua com comunicação pelos direitos humanos no Complexo do Alemão, onde reside. Também trabalha no Meu Rio, rede de mobilização que cria ferramentas e mobilizações para fortalecer a militância na cidade do RJ.
Diana Bogado - Arquiteta, doutoranda em arquitetura e professora. Coordenou o projeto participativo com alunos e a comunidade, realizando primeiras intervenções do Museu das Remoções, inaugurado 18 de maio de 2016, no dia dos museus. Concretizando a brilhante ideia de fazer da Vila um museu a céu aberto.
Mario Chagas – Poeta, museólogo, doutor em Ciências Sociais pela UERJ, professor de Museologia da UNIRIO e da ULHT, Lisboa. Orienta e acompanha o Museu das Remoções desde o início, divulga o Museu no Brasil e no exterior, trabalha pela incorporação de acervos da Vila Autódromo em Museus da cidade do Rio de Janeiro.
Sandra Maria de Souza – Moradora da Vila Autódromo e guia turística. Durante o processo de remoção, militou pela permanência da Vila. É convidada a participar de palestras, seminários, entrevistas, dando sempre um enfoque de memória a suas falas. Atua na construção do museu desde sua origem, realiza visitas guiadas no Museu.
Luiz Claudio da Silva – Morador da Vila Autódromo, professor de Educação Física. Durante o processo de remoção, fez inúmeras fotografias e vídeos abordando o desrespeito sofrido pela comunidade. Atua no projeto do Museu das Remoções desde o início, suas imagens têm sido exibidas, no Museu, ou seja, na Vila e outros eventos.
Manan Terra - Curadora, historiadora da arte, professora, consultora, doutoranda em história e crítica da Arte pela UERJ. Possui experiência nas áreas de gestão de projetos expositivos e centro cultural, produção, marketing e merchandising. Parte da equipe do museu para idealizar e viabilizar projetos.